Em 2015 a Associação Brasileira de Críticos de Cinema divulgou o seu ranking dos 100 melhores filmes brasileiros. Nas dez primeiras posições, a obra mais recente é Cidade de Deus, de 2002.
Por considerar o momento atual do cinema brasileiro, em uma fase iniciada no final do século passado, mais maduro, técnico e equilibrado, resolvi fazer essa lista. Sem critérios históricos, mas apenas artísticos, eis aqui o que de melhor o cinema brasileiro produziu em sua história.
É o melhor documentário de Eduardo Coutinho. Um comovente estudo sobre o ofício de atuar. A ideia genial: a partir de um anúncio publicado nos jornais e distribuído em pontos de grande movimento, mulheres são convocadas a dar depoimentos sobre suas vidas. Depois, com base nesse material filmado, os textos dessas mulheres foram encenados por atrizes, famosas ou não. Na ilha de edição Eduardo Coutinho se encarregou de criar o "jogo" para o espectador: distinguir o que é "real" e o que é "encenação". Disponível no Youtube.
Um marco do cinema brasileiro, indicado a 4 Oscars e o mais famoso filme nacional no exterior. Seu elenco, repleto de atores negros e sem experiência profissional representa uma quebra de paradigmas de mercado. Com uma direção excepcional e uma edição inventiva, Cidade de Deus é, definitivamente, um dos grandes filmes do século XXI.
Em 12 de outubro de 2000 um ônibus carioca da linha 174, que ligava a Gávea à Central do Brasil, foi sequestrado e seus passageiros mantidos por horas como reféns. O desfecho (trágico), foi acompanhado por milhões de brasileiros através das TVs e revelou o despreparo dos órgãos de segurança pública para lidar com uma situação do tipo. Esse contundente documentário refaz a história desse traumático evento tentando entender as suas causas. Para isso, investiga o passado do sequestrador e mostra que a incompetência e omissão do Estado são os motivos principais para que personagens como o sequestrador Sandro do Nascimento se proliferem pelas ruas das grandes cidades brasileiras.
Em uma ode à memória e a força de uma mulher, Aquarius é muito mais do que a o imbróglio político em que se meteu. Sonia Braga, no melhor momento de sua carreira, defende uma personagem viva, real, repleta de contradições, defeitos e qualidades em um filme corajoso e de elevado conceito artístico.
O melhor exemplar de uma temática muito própria do cinema brasileiro: o nordestino que imigra para o sudeste em busca de uma vida melhor. Temos aqui dois grandes personagens: Raimundo Nonato, um cozinheiro talentoso e nato, e aquela por quem se apaixona, uma prostituta glutona, louca por seus quitutes. No meio disso, uma história densa e engraçada em que acompanhamos o embrutecimento de um homem em meio à luta pela sobrevivência na grande metrópole.
Um grande sucesso de público e um dos filmes nacionais mais conhecidos, graças à televisão. Texto primoroso, elenco perfeito e direção precisa. Uma obra-prima.
Dezesseis anos antes de Que Horas Ela Volta?, Regina Casé já demonstrava sua grande sensibilidade para o drama naturalista, ao interpretar uma mulher que vive sob o mesmo teto com três homens, em perfeita ordem familiar. Talvez seja o filme mais feminista do nosso cinema, da mesma produtora que anos depois realizaria o fenômeno Dois Filhos de Francisco.
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