domingo, 17 de janeiro de 2016

MIL VEZES BOA NOITE (Tusen Ganger God Natt, 2013)


A ANGÚSTIA EM FOTOGRAFAR A DESGRAÇA HUMANA É PANO DE FUNDO PARA UM TOCANTE DRAMA FAMILIAR.

país produtor: Noruega, Irlanda, Suécia // direção: Erick Poppe // elenco: Juliette Binoche, Nikolaj Coster-Waldau, Lauryn Canny

sinopse: Rebecca (Juliette Binoche) é uma das melhores fotógrafas de guerra em atividade e precisa enfrentar uma crise familiar quando seu marido (Nikolaj Coster-Waldau) lhe dá um ultimato. Ele e a filha do casal (Lauryn Canny) não suportam mais sua rotina arriscada e exigem mudanças, mas ela, apesar de amar a família, tem verdadeira adoração pela profissão.

Metascore: 57 (from metacritic.com)

-------------------------- 

Uma obra para ficar na memória e no coração, pelas questões que evoca, pela grande carga emotiva das interpretações e pela direção sensível desse grande talento Erick Poppe.

A saga da fotógrafa de guerra Rebecca, contada a partir de sua volta para casa em sua tentativa de reconquistar a família, é comovente e humana. Mas, indo além a esse drama familiar, o filme levanta uma discussão pertinente sobre o papel do fotojornalismo em um mundo atual saturado de imagens que dia após dia banalizam a dor, o sofrimento, a morte.

Pois Rebecca (Binoche, maravilhosa), apesar de não ter dúvidas sobre o quão importante é sua profissão para denunciar os crimes contra a humanidade, com algumas de suas ações (em especial a forte sequência que abre o filme) nos leva à discussão se ao espetacularizar uma ação criminosa, o seu idealismo não está sendo usado a favor das causas que pensa combater.

185_2


Além dessas questões, o filme é especialmente doloroso para o espectador, pois tem como pano de fundo a dor de milhares de esquecidos, em países a margem do mundo global. Nações africanas e asiáticas onde o preço da vida humana é muito, muito baixo. Sem ser panfletário, o filme lança uma sempre necessária luz sobre o drama desses povos.

Mil Vezes Boa Noite é magnificamente filmado. O diretor foi durante muito tempo fotojornalista e revela um grande domínio cênico e estético. Há cenas lindíssimas, não só pela beleza plástica, mas também pela naturalidade nas interpretações. Destaco aqui a cena em que Rebecca e seu marido brincam a beira do mar, numa espécie de reconciliação. E aqui vale um adendo: grandes e sensíveis atuações somente são possíveis quando o diretor é igualmente sensível.

102126

Outro ponto que merece destaque é que o filme é avesso a artificialismos irritantes. Assim, a filha mais nova de Rebecca age e pensa como uma criança, assim como temos uma filha adolescente muito crível em uma ótima interpretação da jovem atriz Lauryn Canny.


Até sua metade irrepreensível, Mil Vezes Boa Noite tem um problema de roteiro na preparação para o terceiro ato, quando a crise se instaura na família. Mas esse problema não prejudica a excelente resolução do filme, em um final aberto, digno da complexidade dos dramas narrados.

Um dos grandes filmes a passar pelos cinemas brasileiros em 2015, infelizmente de forma muito tímida.

Visto em 2015, em arquivo digital.

Nenhum comentário:

Postar um comentário