domingo, 10 de abril de 2016

IDA (Ida, 2013)


COM UM OLHAR INQUIETANTE SOBRE O ANTI-SEMITISMO, EIS AQUI UM FILME NECESSÁRIO E IMPORTANTE.

país produtor: Polônia // direção: Pawel Pawlikowski // elenco: Agata Kulesza, Agata Trzebuchowska

sinopse: Anna é uma órfã criada por freiras na Polônia em 1962 que, pouco antes de ser ordenada, descobre seu passado judeu. Ela então se une à sua única parente viva em uma viagem pelo país em busca de seu passado.

Metascore: 91 (from metacritic.com)

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Ida aborda o anti-semitismo por um ângulo inquietante. É de grande acerto situar a perseguição aos judeus poloneses como uma prática não só dos invasores nazistas entre 1938 e 1945, mas também de parte do povo cristão da Polônia e, por que não, de outros países ocupados.

Pois, de fato, a Alemanha nazista não inventou a perseguição e o massacre aos judeus. Desde muito antes esse povo vinha sendo perseguido pela Europa. Em Ida vemos que os pais e parentes da protagonista foram assassinados não por um característico soldado da SS, mas sim por pessoas comuns, católicas, que se aproveitaram da guerra para se ocupar das propriedades judaicas e prosperarem às custas dos sofrimentos alheios.


Além de contextualizar o Holocausto sob esse ângulo ainda pouco explorado, essa obra consegue dar o devido destaque à religião na histórica perseguição aos judeus. Não à toa, a protagonista Anna é uma noviça às vésperas de ser ordenada que, ajudada por sua tia Wanda, última parente viva, descobre sobre sua origem e nome judaico, Ida. Da química dessa relação e das revelações, nasce em Anna a dúvida sobre sua vocação.

Wanda e Anna são pessoas atormentadas pelo passado, uma entidade mais poderosa do que elas. De um lado, Wanda é infeliz pelas lembranças do sofrimento. Já Anna é infeliz pelo desconhecimento de sua origem, por não saber quem é.

Eis então o grande conflito do filme: a luta emocional de seus personagens contra fatos que levaram à destruição de vidas e de um próspero povo, pelo simples motivo de professarem uma fé diversa. Assim, entre o desafio de encarar o passado reconstruindo o presente ou simplesmente "se matar", o final do filme, mais do que surpreendente, é um desesperançoso epílogo de um povo perseguido e aniquilado na Polônia. De uma população de mais de um milhão, hoje nesse país há pouco mais de dez mil judeus.

Ida é um filme necessário e merecedor dos prêmios que vem conquistando por sua sensibilidade, sutileza e beleza. É muito mais do que sua bela fotografia. É um lamento em forma de arte, que versa de forma elegante sobre um assunto doloroso que não pode ser esquecido jamais.

Visto em 2014, em arquivo digital.

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