terça-feira, 20 de setembro de 2016

FLORENCE - QUEM É ESSA MULHER? (Florence Foster Jenkins, 2016)


NA COMÉDIA OU NO DRAMA MERYL STREEP É GENIAL.

país de produção: Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte // direção: Stephen Frears // roteiro: Nicholas Martin // elenco:  Meryl Streep, Hugh Grant, Simon Helberg

sinopse: Baseado em eventos reais, o filme conta parte da vida de Florence Foster Jenkins (1868 - 1944), uma mimada grã-fina que insiste em cantar em público, mesmo não tendo talento.

Metascore: 71 (metacritic.com)

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Se há algo de genial nesse filme, é a atuação de Meryl Streep. Repleta de nuances entre o drama e a comédia, com olhares, gestuais e um domínio de cena absurdo, ela tem aqui uma atuação até melhor do que a alcançada em A Dama de Ferro (2011), seu último Oscar.

De presente para uma atriz tão extraordinária, um personagem fascinante: Florence Foster Jenkins, uma figuraça da alta roda novaiorquina, amante da música, adulada por todos e, por isso, sem "Simankol" quanto aos seus dotes vocais. Personagem real, Florence está lá no Wikipedia: ela foi uma talentosa pianista mirim e poderia ter uma bela carreira senão fosse a sífilis contraída de seu primeiro marido, na noite de núpcias. A partir daí deu aulas de piano para se sustentar até que recebeu a vultosa herança de seu pai e se tornou uma espécie de matrona musical na cidade.


O roteiro bem amarrado foca o final da vida de Florence, quando ela lutava contra os efeitos da sífilis, apesar dos prognósticos negativos dos médicos. Pois bem, já tendo se apresentado no passado informalmente como cantora lírica, ela resolve dar um passo além e contrata um professor renomado e um pianista iniciante (Simon Helberg) para acompanhá-la. Ao seu lado nessa empreitada está o seu companheiro fiel St Clair Bayfield (Hugh Grant), um frustrado ator de teatro. É ele quem organiza tudo e suborna a todos, de forma que sua amada Florence não sofra uma desilusão. Pois sim, ela acredita em seu talento como cantora, algo que beira o surreal diante do que ouvimos! As cenas em que Florence canta são hilárias. Fazia tempo que não ria tanto em um filme. 

E se eu tinha alguma dúvida quanto ao exagero de ruindade de suas performances, a própria Florence original fez questão de deixar para a posterioridade o seu "talento". Há vários vídeos no Youtube com números líricos seus, retirados de 78 rotações. Eis um deles: https://youtu.be/-quQHNriV-Q. Veredicto: a reconstituição musical do filme é perfeita.


Perfeita também é a fotografia. Lentes, tons, iluminação... tudo uma maravilha. O diretor Stephen Frears contou com a elegância de Danny Cohen, que desde O Discurso do Rei (2010) vem emplacando belos e elogiados trabalhos. Ele também assinou Os Miseráveis (2012), Garota Dinamarquesa (2015) e O Quarto de Jack (2015). Brilhante.

Florence, contudo, não é um filme perfeito. Há alguns problemas no ato final, com uma indesculpável pressa em terminá-lo, somada a uma tentativa canhestra em emocionar o público. Apesar dos momentos dramáticos serem importantes durante toda a obra, sinto que cairia melhor um final para cima, até mesmo em aberto. A comédia e a farsa são os melhores trunfos aqui.

Li algumas pessoas falando que Florence é uma "sessão da tarde de luxo". É uma boa definição. Trata-se de um título que dificilmente alguém detestará. Meryl Streep dirigida pelo competente Frears não poderia resultar em um projeto mal sucedido, ainda mais ladeada por uma dupla tão bem escolhida. Hugh Grant é um mar de simpatia e elegância. Já Simon Helberg tropeça em alguns momentos, mas é inevitável o riso quando a lente captura o seu rosto e seus olhares incrédulos diante do canto atrapalhado de sua chefe.


Meryl Streep... Não tenho medo de coloca-la no panteão como a maior das atrizes. São incontáveis seus prêmios e performances arrebatadoras. Cito aqui as para mim inesquecíveis: Kramer vs. Kramer (1979), A Escolha de Sofia (1982), Silkwood (1983), Amor a Primeira Vista (1984), Entre Dois Amores (1985), As Horas (2002), O Diabo Veste Prada (2006), A Dama de Ferro (2011) e Florence (2016).

Será que virá a 17ª indicação ao Oscar para essa atriz sensacional? Diante do que vi nesse filme, já estou na torcida.

Visto em arquivo digital em setembro de 2016.

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